segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Guarda-roupa sustentável

Os estilistas se rendem à pressão por uma moda ecológica e dizem que já é possível se vestir bem sem piorar o meio ambiente
por LIA BOCK

O aquecimento global está na moda. O mais recente desafio dos ateliês de grandes estilistas é transformar as coleções de verão passageiras em peças ecologicamente corretas – de preferência recicladas e que tenham consumido poucos recursos da natureza. “As pessoas querem se vestir sem agredir o planeta”, diz o estilista Oscar Metsavaht, da marca Osklen. Na última edição da São Paulo Fashion Week, ele apresentou sua coleção feita de algodão orgânico, sem uso de agrotóxicos. Segue os passos do estilista italiano Giorgio Armani. Em outubro, em um desfile em Milão, Armani havia lançado sua coleção de jeans com fibras orgânicas.

A indústria têxtil está entre as quatro que mais consomem recursos naturais, de acordo com a Environmental Protection Agency, órgão americano que monitora a emissão de poluentes no mundo. Mas a recente preocupação dos estilistas com materiais ecologicamente corretos não veio naturalmente.

A indústria só tem buscado novos caminhos porque os consumidores começaram a preferir a moda que não agride o planeta. Algumas grifes aboliram fibras vegetais cultivadas com produtos químicos. Outras aos poucos estão expandindo a moda verde para toda a confecção. É o caso das americanas Levi’s, Gap e Nike e da britânica Marks & Spencer.

Em Milão, o Istituto Europeo di Design, uma rede internacional de escolas de artes, criou saias com peças de aço, vestidos de fios elétricos e calças com metal de bicicleta, tudo feito a partir de objetos que seriam jogados no lixo. “Iniciativas como essas ajudam a conscientizar os consumidores”, diz Ana Candida Zanesco, diretora do Instituto Ecotece, uma organização que monitora a moda verde.




 
1 - TUDO DE BAMBU
Os modelos são feitos a partir da fibra de bambu, uma boa alternativa ao algodão convencional. A bata verde da Dzarm custa R$ 100, a calça Esencial vermelha e preta R$ 378, a blusa azul Flor R$ 159 e a camiseta R$ 119
2 - JÓIA DE PAPEL
Pulseira de bobina de papelão da paulistana Anastássia e colares de papel reciclado da carioca Zoia. As peças são envernizadas, mas podem se deteriorar com a chuva. O colar curto custa R$ 68, o comprido R$ 88 e a pulseira R$ 38
3 - ESTRELA DE CINEMA
Acessório da marca carioca By Rubia Calazans usa película de filmes envernizados e costurados em crochê. Os rolos descartados pelas produtoras são de difícil decomposição e altamente tóxicos se queimados. Custa R$ 76
4 - BOLSA DE PESCAR
A marca catarinense Nara Guichon criou uma bolsa usando redes de pesca que seriam descartadas. Jogadas no mar, as redes causam a morte de animais marinhos. Custa R$ 95
5 - BORRACHA QUE PARECE COURO
A bolsa da AmazonLife usa látex e algodão com tingimento natural. O produto se parece com o couro animal, mas agrada aos vegetarianos. Custa R$ 190
6 - BOLSA DE SACOLINHAS
A marca Maria Lixo, de São Paulo, usa sacolas plásticas descartadas e apliques em tecido para confeccionar suas bolsas. Custa R$ 320
7 - CAMISETA DE GARRAFA
A camiseta da marca Volcon mescla garrafas PET a fibras de algodão. A marca já investe em novas coleções ecológicas. Custa R$ 66
8 - JEANS ECOLÓGICO
O jeans da marca americana Hall também usa algodão orgânico e tingimento natural. A peça é importada e, por isso, não é considerada uma iniciativa 100% verde. Custa R$ 1.050
9 - O ALGODÃO FASHION
A Natural Fashion usa algodão orgânico colorido naturalmente em suas peças. O uso de produtos químicos no algodão convencional chega a ser oito vezes maior que em uma plantação de alimentos. A camiseta custa R$ 39 e a calça R$ 97
10 - ERA LIXO, VIROU LUXO
O couro dos peixes tambaquis e tilápias, que seria descartado após o consumo, foi usado nos sapatos e nas bolsas da marca Tão Galeria. A estilista Paula Feber usa lona de caminhão no sapato roxo da foto (R$ 725). A sapatilha marrom custa R$ 717, o escarpim de tilápia R$ 1.100 e a bolsa R$ 700


A moda verde de hoje não é hippie como a que despontou no início dos anos 80. “Antes, os consumidores de moda ecológica eram jovens que gostavam de passar férias em navios do Greenpeace”, disse Armani. As peças de hoje atingem diversas tribos. Há roupas chiques, casuais, peças exóticas, mas a maioria é parecida com as que já se vêem nas prateleiras. Os consumidores podem confundir uma bolsa de lona de caminhão com uma de tecido sintético. Na vitrine, com o mesmo tingimento, as duas parecem feitas do mesmo material.

No Brasil, a moda ecológica começa a despontar. A marca catarinense Nara Guichon aproveita em suas bolsas redes de pesca que seriam descartadas. A estilista carioca Rubia Calazans usou rolos de filmes descartados para criar suas bolsas e a Track & Field usou garrafas plásticas e fibras de bambu em sua nova coleção esportiva. Nem sempre o uso de materiais naturais é sinônimo de moda ecologicamente correta.

A fibra de bambu, produzida apenas na China, gera polêmica entre os ambientalistas. Seu transporte queima combustíveis fósseis, que emitem gases do efeito estufa. Mas ela faz sucesso nas passarelas e entre os consumidores. Para a indústria, isso basta.


http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EDG78227-6010,00.html

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